Relato de Raiza Goulão no Campeonato Brasileiro de MTB Cross Country (XCO) 2018

Quando os desafios que surgem no caminho põem à prova o nosso trabalho, dá até um gostinho especial enfrentá-los. Difícil é quando os desafios vão além de nossas capacidades físicas…

Depois da queda sofrida em um dos treinamentos da etapa de Val di Sole (ITA) da Copa do Mundo de MTB, e na sequência ter participado de três provas da competição, realizei uma ressonância, chegando ao Brasil. A imagem diagnosticou uma fratura na patela do joelho direito, que foi lesionado.

Em São Paulo, fui atendida pela Dra. Fernanda, da Clínica Move, local em que fui muito bem acolhida e tive todo o respaldo dela e de sua equipe. No primeiro momento, aos nos depararmos com o resultado crítico do exame, o prognóstico não era nada animador: as chances eram grandes de sequer poder correr o Brasileiro de MTB.

Decidimos, então, buscar a opinião do especialista em tratamento de lesões em joelho, o ortopedista Dr. Marco Demange. Com ele, chegamos à conclusão de que era possível eu competir no Brasileiro sem que houvesse um agravamento da lesão. Voltei ao uso de anti-inflamatórios, que eu havia cortado alguns dias antes. Com a dor amenizada pelos medicamentos, consegui retomar meus treinos.

Foram semanas complicadas mentalmente, com várias coisas acontecendo comigo. Não só em relação à bike, mas também na vida pessoal. Mesmo assim, consegui me conectar bem nos dois dias de treinos lá no Lar Nossa Senhora Aparecida (local do Brasileiro de MTB), tanto na sexta-feira (20), quanto no sábado (21). Respeitei sempre meu corpo, focando na prova do domingo (22), com a estratégia de que, se eu sentisse dores fortes, optaria por abandonar.

Larguei bem, sem sentir dores, mas acabou que as energias do dia não conspiraram a meu favor. Desde já agradeço a todo o suporte que tive do Time Groove XCO aqui no Brasil, que apoia o Time Raiza Goulão. Nosso mecânico fez toda a revisão da minha bike, mas quando iniciei a corrida minhas marchas não se encaixavam. Não conseguia forçar nas subidas.

Logo na primeira volta, tive um maior contratempo, que foi o fato de arrebentar o power link da minha corrente. Fui correndo para o apoio (empurrando a bike) e tive a sorte da quebra da corrente ter ocorrido em um trecho da pista não muito distante do ponto em que estava o mecânico. De todo modo, isso me custou um bom tempo. A troca da corrente, na maioria das vezes, é um procedimento demorado. Voltei à prova, mas ainda com problemas de marchas. Minha bike não fluía e eu não conseguia subir bem.

Tive que parar no segundo apoio (na segunda parte da pista em que é possível que o mecânico auxilie a atleta) para arrumar. Com a ajuda do Pedro Gaminha, a quem eu agradeço pelo carinho e atenção, descobrimos que minha gancheira estava empenada. Durante o aquecimento estava tudo certo, com a revisão muito bem-feita. Mas, infelizmente, foi esta peça que me tirou a chance de disputar o título Brasileiro.

Fiquei feliz e honrada, de toda forma, de ver a Jaqueline Mourão competindo novamente no Mountain Bike e por sua conquista do Campeonato Brasileiro. Isso ajuda a engrandecer o nosso esporte e também a elevar o nível das meninas no Brasil na elite feminina, o que é muito bom.

Daqui para frente, terei uma semana de total recuperação do meu joelho direito, acompanhada pela Doutora Fernanda, para recuperar o mais rápido possível, junto com meu treinador Victor Rodrigues. Agradeço de coração a todas as pessoas que estão mandando mensagens de apoio. Como meu amigo José Gabriel me disse: foi um turbilhão de emoções que chegou à minha vida nas últimas semanas. Dedico essa medalha de prata ao Coach Flavio Magtaz, um segundo pai, e gostaria de parabenizar os amigos que também correram.

Foi uma honra estar ao lado do time Raiza Goulão e ver a evolução das meninas. A Camilinha com o bronze na junenil e a Aninha com a prata na infanto-juvenil, em um fim de semana repleto de fortes emoções e de bons momentos entre amigos. Todas essas nossas medalhas, tanto do Time Raiza, quanto do Team Groove XCO, com o Zé Gabriel e com a Marcelinha, com certeza são dedicadas ao Flavio. Somos muito gratos a eles.

Andar com fé eu vou, porque a fé não costuma falhar.

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