Rogério Bernardes fala da evolução do MTB, pistas e bicicletas

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A história

Rogerio Bernardes é o responsável pela CIMTB, mas nos anos 80 já organizava provas. A CIMTB realizou sua primeira prova em 1996. Desde então, vem inovando e contribuindo ativamente para o crescimento e fortalecimento do mountain bike e o mercado de bicicletas no Brasil. Contando pontos para o ranking mundial da União Ciclística Internacional (UCI) desde 2004, a CIMTB tem sido seletiva para os Jogos Olímpicos nos ciclos de Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016, Tóquio 2020 e Paris 2024. Em 2022, a CIMTB aumentou ainda mais sua relevância internacional, com a realização da etapa de abertura da Copa do Mundo Mercedes-Benz de Mountain Bike 2022, em Petrópolis. Além disso, foi responsável pela construção da pista de mountain bike dos Jogos Olímpicos Rio 2016, considerada uma das melhores da história dos Jogos desde 1996, primeiro ano do MTB em Olimpíadas.

Abaixo a entrevista exclusiva com Rogério Bernardes

Bike aos pedaços: Como você observa a evolução das pistas de XCO ao longo das ultimas décadas? Elas se tornaram mais técnicas ou difíceis para os ciclistas?

Rogério Bernardes: Tenho observado isso por quase três décadas e o esporte se transformou consideravelmente. Antigamente, as pistas eram mais extensas e as provas de elite duravam entre 2h30 e 3h. Essa evolução se percebe em diversos esportes, não apenas no MTB. No vôlei, por exemplo, houve uma diminuição na duração e aumento do dinamismo para se adequar à transmissão televisiva. Atualmente, as competições têm uma duração ideal de 1h15 a 1h25. As pistas, que antes chegavam a 7 km, agora têm entre 4 km e 5 km no máximo.

Certamente, a diminuição do tamanho das pistas elevou sua intensidade e demanda técnica. Esse foi um desenvolvimento natural ao longo do tempo. Com isso, muitos elementos foram adicionados às pistas, como curvas que sobem paredes, permitindo aos atletas executar voltas ou curvas mais rápidas.

Atualmente, observamos a inclusão de saltos, drops e paredes de pedras para as descidas dos atletas. Muitos segmentos intrigantes foram adicionados, mostrando uma grande diferença. Parece que estamos atingindo o limite dessas modificações e a tendência pode ser um retrocesso, mas não mantendo as pistas exatamente como antes, mas possivelmente estagnando essa evolução, especialmente quando os equipamentos também parecem estar chegando ao seu limite.

BAP: Quais foram as mudanças mais significativas nas regras ou nos padrões de design de pistas de XCO durante esses anos organizando provas?

RB: Mencionei anteriormente sobre as mudanças nas regras: a diminuição no tempo de prova, a redução do tamanho da pista e as alterações em seu design. As pistas tornaram-se mais moldadas, perdendo um pouco do aspecto natural de antes. No passado, uma boa pista dependia de uma excelente montanha, de um local especial. Atualmente, essa não é a única opção; é possível criar artificialmente uma pista interessante que imite condições naturais. Contudo, o ideal é escolher lugares impressionantes e, sobre eles, desenvolver trechos técnicos desafiantes para os competidores.

BAP: Como você acha que a tecnologia e a evolução das bicicletas de montanha (MTB) influenciaram o design e a dificuldade das pistas de XCO?

RB: Com certeza, vemos uma evolução do ser humano no papel de atleta, e isso ocorre em todas as modalidades. Atualmente, um atleta de MTB conta com uma equipe, incluindo preparador físico, treinador técnico, nutricionista e fisioterapeuta. Há todo um grupo dedicado ao cuidado desse atleta, o que contribui para o progresso.

Em paralelo, as bicicletas passaram por uma transformação significativa. Quando as provas da CIMTB começaram, as bicicletas possuíam aro 26 e não tinham suspensão. Com o tempo, ganharam suspensões, tornaram-se mais leves, os câmbios foram atualizados e muitas outras mudanças ocorreram ao longo dos anos.

Uma das transformações mais marcantes foi a alteração no tamanho das rodas. Surgiram as bicicletas com aros 27,5 e depois as de roda 29, permitindo aos atletas superar obstáculos com mais destreza. Isso desencadeou outras evoluções, como avanços nos câmbios, melhorias nos freios, especialmente os a disco, e reduções no peso das bicicletas. Antigamente, as suspensões dianteiras e traseiras eram exclusivas para downhill, mas agora, um bom modelo de bicicleta XCO possui ambas, sem comprometer seu peso. Naturalmente, as pistas tiveram que se adaptar para desafiar tanto os atletas quanto essas novas bicicletas. Se as pistas permanecessem como eram, usar essas bicicletas avançadas perderia o sentido, evidenciando essa coevolução.

BAP: Dado o ritmo acelerado de evolução das MTBs, quais são as características ou tendências que você acredita que serão mais influentes no design das pistas de XCO nos próximos anos?

RB: No começo, houve uma estagnação na evolução, mas depois surgiu a bicicleta 29, e agora estamos no ponto onde a tecnologia se integra mais na bicicleta. A excelência e a qualidade dos equipamentos estão ligadas à inovação e ao peso. O MTB diversificou-se em categorias como Enduro, Downhill, XCO, XCE e XCC, cada uma com suas características e pistas específicas.

Quanto ao XCO, em minha visão, ele permanece sendo a categoria primordial, pois engloba aspectos de todas as outras. Requer explosão, um atleta desafiador com ótimo preparo e uma bicicleta avançada. O XCO é como a essência do MTB, consolidando tudo o que este esporte oferece, e por isso, as inovações nessa categoria serão contínuas.

Provavelmente, nunca teremos uma pista de XCO focada em downhill, pois são categorias com atletas e bicicletas muito distintos. O Enduro aproxima-se do XCO, mas há diferenças claras. As pistas de XCE e XCC, por exemplo, são mais suaves e focadas em explosão.

Sempre priorizei a segurança dos atletas. Atualmente, vemos essas categorias mais bem definidas. Por exemplo, um bike park com muitos saltos é voltado para o Enduro. Se o ciclista quer praticar o XCO, ele estará mais conectado ao solo. Se busca por saltos maiores, o downhill é a escolha.

A clareza nessas definições é crucial. No XCM, por exemplo, a demanda técnica é menor. Portanto, o ciclista deve entender bem onde deseja se aventurar, pois as demandas e os riscos variam conforme a categoria escolhida.

Foto divulgação Alemão Silva

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