Campeonato Latino Americano de DH – 1ª etapa Panamá

Que responsabilidade, hein?! Essa jornada se iniciou no fim de 2017, onde fui convidado a participar do Campeonato Latino Americano de Downhill 2018, com três etapas: Panamá, Peru e Colômbia. No início ainda bem desacreditado e principalmente por ser na semana do Natal, o contato com os patrocinadores ficou bem difícil. Mais uma vez orei a Deus e pedi para que fosse feita, a sua vontade. Na primeira semana de 2018, minhas passagens já estavam compradas, já que a organização da prova me daria Alimentação, Hospedagem, Inscrição, Translado interno, etc, tudo se tornou mais viável. A primeira etapa era logo no fim de Janeiro, tive um curto período de lapidação nas academias que treino, por sorte não tiro “férias” dos treinos e havia feito um excelente trabalho de base (período onde treinamos com muita intensidade para se manter na próxima temporada com viagens, etc).

Acredito que na vida, as coisas que vêm fáceis, acabam não tendo o mesmo valor e significado no futuro, por isso busco sempre entender as dificuldades e também compreender o “time” da conquista, do resultado, do aprendizado… Temos que subir um degrau por vez.

Semana da viagem chegou, meu vôo era para uma quinta-feira e a prova no sábado e domingo.

Na segunda-feira, começando a organizar as coisas, um susto. Onde está meu cartão da ANVISA, da Vacina de Febre amarela? Procura daqui, dali… casa de cabeça para baixo… e nada. Na terça, achado na casa da minha mãe, em Angra. Ufa!

Quarta-feira, dia de fazer check-in on line, tudo ok até me pedirem o número do Passaporte! Opa, Panamá precisa? Sim, precisa!(Eu já havia viajado para fora do Pais, porém para país do Merco Sul, por isso não precisei). Nesse momento, me passou um filme aos olhos, um mix de raiva, de tristeza… e a culpa era minha, somente minha! Ansiedade, imaturidade, entusiasmo… O que vou falar para meus patrocinadores?

Estava completamente desesperado! Depois de muita pesquisa, minha única solução seria um passaporte de emergência. Que é necessário alguns requisitos para emissão.

Enfiei tudo no carro, a bicicleta ainda estava montada e corri para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde também tem uma Delegacia da Policia Federal. Cheguei bem no fim do dia, alguns policiais já sabiam da minha situação e foram SUPER solícitos comigo. Aconselharam-me a já trocar a passagem para Sexta-feira para não ter problemas e pediram pra eu retornar no outro dia pela manhã, para dar continuidade a emissão do passaporte de emergência.

Foto arquivo pessoal

Quinta-feira, dei entrada na emissão mas ainda sim, faltava um “motivo”. Pois o passaporte de emergência é apenas emitido em caso de vida ou morte (o meu era rs), doenças, etc… Mesmo alegando que era um atleta, indo representar o Brasil em uma competição super importante, não era motivo suficiente. Até que o organizador da prova, sabendo da situação me conseguiu uma carta, assinada pelo Presidente do Panamá. Em algumas horas estava com meu passaporte em mãos.  Ainda sem acreditar, que iria para a prova… Quando cheguei na casa do Bruno, em Guarulhos (um dos meus patrocinadores, RSD Mud no more) recebi uma mensagem, dizendo que a minha passagem havia sido cancelada. Como assim?? Não é possível! Haha.

Na volta pra Paraty, minha família perdeu o cartão de crédito e ligaram para o banco para bloqueá-lo, e aí cancelaram o pagamento da passagem pois acharam que poderia ser fraude! Outra novela junto aos atendentes do “Decolar.com”, que no fim já me perguntavam se eu havia conseguido o passaporte e me desejavam boa sorte para a prova! rsrs

A todo instante, nesses dias, nesses momentos… Eu olhava pro céu e falava: Deus, seja feita a tua vontade… Se for para eu participar dessa prova, eu vou! Independente de qualquer coisa.

Na Sexta feira, eu só consegui respirar quando o avião decolou! Agradeci muito a Deus e falei, é pra ser! Vamos! Depois de 7h de vôo, mais 4h de carro. Chego na cidade de Veraguás, onde acontece o evento. Cheguei de madrugada, perdi um dia de treino. Eu só queria andar de bike, pra aliviar toda tensão dos últimos dias.

No sábado pela manhã, chegamos ao evento e só me dei conta de onde fui me enfiar quando desci do carro. O salto da chegada tinha uns 8 metros de altura e eu com uma bicicleta com 110mm de curso na traseira. Quando olhei para o lado, estava o Rafael Gutierrez, um dos maiores nomes do Downhill da América latina entre outras lendas… Realmente fiquei muito assustado! O primeiro pensamento foi: “O que eu vim fazer aqui?” Pensei, só quero me divertir! Fiz a primeira descida de treino, pista super perigosa e muito traiçoeira. Um terreno bem solto! Fiz a segunda descida encaixando melhor algumas linhas e na terceira já era o Qualify (classificação para a ordem de largada, que também somam pontos para o Ranking final).

A estratégia foi dosar nas partes mais perigosas e pedalar muito onde havia possibilidade, terminei com um tombinho em uma curva e resolvi ir direto para o hotel descansar, sem nem ver o resultado.

Na manhã de domingo, cheguei para treinar antes da prova e fui olhar os tempos… Só apareciam os 5 primeiros de cada categoria na lista, 5° não era… Pensei “Tomei um coro daqueles…”, 4° não era, 3° não era, 2° também não…  E quando olhei a linha de cima, quase tive um infarto ao ver 1° – Eduardo Santos / Brazil. Como assim?! Deu certo a tática!

Foto arquivo pessoal

Me isolei, falei com Deus… Tentei me concentrar ao máximo, pensava: “tudo ou nada” mas precisava ter cautela, para não jogar tudo fora…

Aquela descarga de energia após o “5, 4, 3, 2, 1, parte”, fiz uma descida segura, constante e com muito pedal! Alcancei um atleta que largou 1min na minha frente. Totalmente consciente das ações na bicicleta, isso foi muito importante para ter tranqüilidade, reflexo e controlar a respiração.

Passei na linha de chegada com a sensação de dever cumprido e pude ouvir o locutor gritar, “É CAMPEON, EDUARDO DE BRAZIL”… e foi com a diferença de 1m e 32seg do 2° colocado, um atleta Panamenho.

Foto arquivo pessoal

Nesse momento eu larguei a bicicleta e foi como se o mundo parasse! Eu gritava tanto, chorava e foi tão vibrante aquela emoção que os espectadores do evento começaram a comemorar comigo como se me conhecessem há anos, me carregavam, me jogavam pro alto, me senti em casa! Foi incrível aquele momento! Eu não conseguia acreditar!

Foi um pódio indescritível, eu já não tinha mais voz! A bandeira brasileira amarrada, a bicicleta no palco do evento… o Hino nacional Brasileiro tocando ao fundo! Extremamente emocionante!! Algo que levarei para minha vida inteira!

E pensa que eu parava de chorar na volta? Super feliz e realizado! Hiper grato a Deus, por ter passado todas as dificuldades ao longo dos anos, por tudo que vivi até chegar naquele degrau! Por todas as pessoas que contribuíram com aquela vitória! Por todos os “Nãos” que a vida me deu e que só serviram de incentivo! Grato por não ter desistido dos meus sonhos!

Voltei para o Brasil, líder disparado do Campeonato Latino Americano de Downhill, na categoria Enduro. Vencendo o Qualify e também a prova… Perfeito!

Chegando em casa, fui homenageado pela Câmara Municipal de Vereadores de Paraty, com uma bela Moção de Aplausos!

Foto arquivo pessoal
Foto arquivo pessoal

Indescritível!

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