Ciclistas de pista falam da falta de preparação para os Jogos Pan-Americanos

Brasileiro de pista 2022

Atletas do ciclismo de pista brasileiros alegam que confederação não auxiliou na preparação para os Jogos Pan-Americanos

O Brasil finalizou sua participação no ciclismo de pista dos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 sem conquistar medalhas. Apesar disso, os atletas brasileiros obtiveram resultados impressionantes, alcançando duas quartas posições e uma sexta colocação. Essas colocações surpreenderam os próprios esportistas, considerando que eles alegam não terem tido uma preparação adequada para o evento, sem nem mesmo realizar períodos de treinamento prévios aos Jogos Pan-Americanos.

“O meu resultado foi inesperado para mim e acredito que para qualquer um da equipe. Em vista do tanto de investimento que nós temos, eu saio muito feliz com esse quarto lugar. Se tivesse um apoio maior, com certeza eu estaria brigando por uma colocação melhor e até por medalha. A nossa realidade é muito triste”, disse Carolina Barbosa, quarta colocada no sprint individual feminino.
Baixo investimento

Segundo os atletas, existe uma falta de investimento por parte da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) na modalidade de pista. Os ciclistas tiveram que se preparar individualmente para Santiago-2023, treinando em seus clubes, uma vez que não houve nenhum acampamento de treinamento antes da competição. Cada país tinha a oportunidade de classificar até 18 atletas para os Jogos Pan-Americanos, sendo nove homens e nove mulheres, mas o Brasil conseguiu apenas oito vagas.

O Velódromo Olímpico, situado no Rio de Janeiro, é considerado um dos melhores do mundo. No entanto, é pouco utilizado para treinamentos ou competições de ciclismo de pista. A Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) tinha planejado realizar um período de treinamento para os Jogos Pan-Americanos lá, mas, infelizmente, o gestor de alto rendimento da entidade informou que o local estava inacessível naquela época.

“Estava previsto um training camp no Velódromo do Rio, mas devido a sua interdição, resolvemos antecipar ao máximo a convocação para os Jogos Pan-Americanos de Santiago, proporcionando um maior período de preparação para os atletas, tendo em vista que todos os convocados moram em cidades que têm velódromos ativos funcionando”, falou Fernando Fermino, gestor de alto rendimento da CBC.

Além da falta de treinamentos, os atletas estão insatisfeitos com a falta de suporte da CBC. Eles afirmam que a CBC não os leva a eventos internacionais e também não renova os equipamentos necessários para competir. Como resultado, eles acabam pedalando com bicicletas ultrapassadas, em comparação com atletas de outros países.

“Essa é apenas a minha segunda competição internacional do ano, disputando ao lado de medalhistas mundiais, que acabaram de vir de provas internacionais. Isso faz total diferença. A falta de competição atrapalha muito o atleta, porque ele fica sem ritmo de prova. Não adianta só treinar, treinar e não competir”, falou João Vitor da Silva, que chegou a vencer o vice-campeão mundial Nicholas Paul na eliminatória e terminou em sexto lugar na final do keirin.
Falta atenção

O ciclismo de pista no Brasil tem sido negligenciado há bastante tempo. Um exemplo disso foi a falta de bicicletas novas nas últimas edições dos Jogos Pan-Americanos, o que gerou reclamações por parte dos atletas brasileiros. Além disso, na última edição, a equipe masculina de sprint conquistou inicialmente uma medalha de bronze, mas devido a um caso de doping envolvendo Kacio Freitas, a medalha foi revogada. Ao analisar o histórico dos Jogos Pan-Americanos, o Brasil possui um total de sete medalhas na modalidade de ciclismo de pista, sendo uma de ouro e seis de bronze.

“Eu acho que o ciclismo de pista tem que ser mais visado. Ele é importante assim como o mountain bike, o BMX e a estrada. Temos grandes chances de Olimpíadas, mas é preciso dar uma atenção maior para a modalidade. Tem que participar da Copa das Nações, do Mundial, de todos os Pan-Americanos e de provas classe 1 e classe 2. Isso tudo para ter ritmo de prova, porque se não, não adianta. Não adianta vir participar e alinhar ao lado de um campeão mundial”, falou João.

Questionada sobre os equipamentos, a confederação explicou que não conta com patrocinadores para investir em novas bikes. “Como são equipamentos extremamente individualizados e com custo elevado, apenas oferecemos suporte aos atletas e disponibilizamos algumas bicicletas de contingencia para determinadas provas em algumas disciplinas”, falou a entidade, em nota.

Fora do mundial

O Mundial de Ciclismo ocorreu em agosto deste ano, na cidade de Glasgow, na Escócia. O evento contou com a participação de 13 disciplinas esportivas, todas supervisionadas pela União Ciclística Internacional (UCI). Entre as modalidades presentes estavam as cinco modalidades olímpicas (BMX Freestyle Park, BMX Racing, Estrada, Mountain Bike e Pista), além das paralímpicas (Pista e Estrada). O Brasil teve um total de 39 atletas competindo nesse evento, sendo cinco deles no paraciclismo de pista e nenhum na pista convencional.

“Infelizmente, é um cenário bem triste o do Brasil. Só eu participei como velocista nesses Jogos Pan-Americanos e se, olhar os outros países, tem pelo menos três atletas. Faz um bom tempo que nós não temos um team sprint (equipe). No feminino, a última vez que eu corri essa prova foi em 2018. Os meninos quase sempre conquistam medalhas, seja em Pan-Americano ou Jogos Pan-Americanos, mas esse ano não puderam conquistar. Atualmente, só tem eu e o João de velocistas. É uma realidade muito triste”, finalizou Carol.
A CBC

No ciclismo de pista, a participação brasileira foi positiva para Fermino. Além dos ótimos desempenhos de Carolina Barbosa, que ficou em quarto lugar, e João Vitor Silva, em sexto lugar, o Brasil também conquistou o quarto lugar no madison feminino com Alice Melo e Wellyda Rodrigues. Além disso, Armando Camargo finalizou a competição em sétimo lugar e Wellyda ficou em décimo lugar no omnium. Infelizmente, Armando e Kacio Freitas não conseguiram completar o madison masculino.

“Nós saímos satisfeitos, apesar de não ter conquistado uma medalha, que era o nosso grande desejo. Analisando o resultado geral, foi bom. A gente avaliou um quarto, um quinto e um sexto lugares, que nos deixam motivados. Fica evidente que estamos no caminho, mas ainda precisamos investir no processo de preparação dos nossos atletas. O caminho estamos conhecendo e aprendendo, conseguindo chegar perto das grandes potências, mas precisamos olhar para o lado estruturante”, disse ele.

Foto divulgação

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